[...] Como era difícil admitir que estava tudo afogado. Como era complicado e brutalmente doloroso afirmar que não era assim o planejado, que nunca tinha sonhado com isso, como era...
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Beatriz não sabia o que fazer, definitivamente não tinha nascido pra viver. Naquela manhã quando levantou, sabia que algo estava errado, na verdade, sabia há muito tempo que tudo estava errado. Aquele silêncio absoluto a incomodava muito. Ora, se era pra se sentir sozinha, que assim estivesse. Era o que pensava em gritar, mas tinha medo que acontecesse de verdade e que aquele silêncio permanente fosse embora. Por mais que a incomodasse o tal silêncio absoluto, já estava acostumada com essa calmaria. Embora ela sempre tivesse admitido que gostava do mar agitado e da inconstância da instabilidade, fingia não ouvir o barulho dos grilos.
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Naquela noite, Beatriz não aguentou. Teve que fugir do barulho dos grilos e procurar refugio em algum deserto próximo. Pode parecer ironia, mas o deserto que encontrou era menos silencioso do que lá, no deserto próximo ninguém fingia não notá-la, não havia ninguém. Começou a pensar e filosofar sobre rejeição, e notou que pior que o silêncio, era a rejeição dos grilos. Foi uma confusão só! O sono começou a confundi-la e já não sabia mais no que pensar. A solução era voltar pra casa, enfrentar o silêncio, e tentar esquecê-lo quando fosse embora. Como sempre fazia.
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